terça-feira, 17 de setembro de 2013

A expressão Igreja “santa e pecadora” é uma faca de dois legumes


Lendo o o site “O catequista” vi essa postagem, e achei interessante:

O leitor Luciano nos enviou essa mensagem na semana passada:
Olá, gostaria que, se possível, me tirassem uma dúvida.
Mas primeiro parabenizo pelo site, pelas postagens que, muitas vezes, me fazem rir, ao mesmo tempo em que me fazem aprender mais. Estou sempre visitando e hoje gostaria de fazer uma pergunta. É a seguinte: alguns padres dizem que “a Igreja é santa e pecadora”, pois é constituída de pecadores. Outros padres já dizem que “a Igreja é santa mas não pecadora” pois ela é o Corpo de Cristo e não pode ter máculas… Diante disso eu queria saber, qual o correto? Qual é a verdade?
Luciano, obrigada por nos dar uma força com suas palavras! Sobre a sua pergunta, a expressão “Igreja santa e pecadora” não é de todo errada, mas não vale a pena usá-la, porque dá asas para as viagens dos hereges de plantão e confunde os menos instruídos.
O principal motivo para evitarmos essa expressão é a caridade para com os irmãos que ainda engatinham no conhecimento sobre a doutrina. Muitos, ao ouvir “Igreja santa e pecadora”, podem cair nas armadilhas do relativismo reinante, achando que “já que a Igreja é pecadora, pode errar em seus ensinamentos, inclusive os dogmáticos”. E isso é uma ideia extremamente danosa e equivocada!
Creio que é prudente evitarmos usar uma expressão que dá tanta margem pra conclusões toscas…
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Para entendermos melhor essa questão de “santa e pecadora”, vamos usar a imagem de São Paulo: a Igreja é um corpo, em que nós somos os membros e Jesus Cristo é a cabeça (Col 1,18; I Cor 12,27). Acaso em Jesus Cristo há mancha, há pecado? Certamente que não! E é Ele quem comanda o corpo.
E em que consistem tais comandos? Na doutrina da Igreja, é claro! Os comandos enviados pela cabeça são os ensinamentos sobre fé e moral que todos os católicos (membros do corpo) são chamados a crer e seguir. A doutrina da Igreja, portanto, é um porto seguro, é digna de toda a nossa confiança, pois não é uma doutrina humana; provém de Cristo.
Por isso, no Credo Niceno-constantinopolitano (aquele mais longo), rezamos “Creio na Santa Igreja Católica Una, Santa, Católica e Apostólica”; e não “Creio na Santa Igreja Católica Una, Santa e pecadora…”. Certo? E o Papa Paulo VI, em um documento do Concílio Vaticano II, deixou claro que a Igreja “é indefectivelmente santa”, ou seja, a crença em sua santidade é uma coisa certa, infalível (Lumen Gentium, 39).
O problema é que nem sempre os membros do corpo obedecem adequadamente aos comandos enviados pela cabeça. Assim, a Santa Igreja prega a caridade, o perdão, a castidade, a temperança… Mas quando seus membros estão doentes ou feridos – com a alma ferida pelo pecado –, falham em cumprir esses “comandos”. Por isso, a Igreja é Santa, mas necessita ser sempre purificada, pois contém filhos pecadores em seu seio.
A santidade as Igreja é certa, porém imperfeita, pois, com nossos pecados, nós manchamos o corpo da Igreja. E quando um membro vai mal, todo o corpo sofre. Da mesma forma, quando um membro está sadio – são, isto é, SANTO – todo o corpo se beneficia disso!
to_anotandoEntão, é fundamental que saibamos diferenciar a santidade DA Igreja (que é certa) da santidade NA Igreja (que é pessoal e nem sempre corresponde à santidade DA Igreja). Nesse sentido, a expressão “Igreja santa e pecadora” é uma faca de dois legumes: se, por um lado, tem seu fundo de verdade, por outro embaralha um pouco as coisas, pois não favorece a necessária distinção.
E, quando usamos uma faca de dois legumes, qual o resultado? Salada teológica! Argh!!!
Até onde sei, o único Papa de toda a história que se referiu à Igreja como “santa e pecadora” foi o beato João Paulo II – e fez isso uma única vez. Já Bento XVI, sabendo bem da necessidade de colocar os pingos nos is, sempre disse “Igreja santa e composta de pecadores”. Nota 10!
Então, esta é a expressão mais adequada: “Igreja santa e composta de pecadores”.
Os fundamentos das afirmações desse post nós tiramos do documento “Memória e Reconciliação: a Igreja e as culpas do passado” (itens 3.2 e 3.3).
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