segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O que a Igreja diz a respeito do uso de animais para experiências científicas?


Os animais ocupam um determinado lugar no projeto de criação de Deus. Isso fica bem claro quando Jesus afirma: "olhai os pássaros do céu, não semeiam nem colhem, nem guardam em celeiros, no entanto, o vosso Pai celeste os alimenta" (Mt 6,26). Ora, se Deus tem esse cuidado, essa providência para com os animais, não devem também os homens respeitar-lhes a dignidade? O Catecismo da Igreja Católica reconhece essa dignidade e recorda os grandes santos São Francisco de Assis e São Felipe de Neri, conhecidos pelo amor dedicado às criaturas de Deus:
"2416. Os animais são criaturas de Deus. Deus envolve-os na sua solicitude providencial. Pelo simples fato de existirem, eles O bendizem e Lhe dão glória. Por isso, os homens devem estimá-los. É de lembrar com que delicadeza os santos, como São Francisco de Assis ou São Filipe de Néri, tratavam os animais."
No entanto, o Catecismo segue dizendo que os animais estão sujeitos ao governo daquele que foi criado à imagem de Deus, ou seja, ao homem. Isso quer dizer que é lícito utilizar os animais para alimentação, para vestimenta, como auxílio no trabalho, no lazer (após domesticados), e também em experimentos científicos, conforme fica bem claro no parágrafo seguinte:
"2417. Deus confiou os animais ao governo daquele que foi criado à Sua imagem. É, portanto, legítimo servimo-nos dos animais para a alimentação e para a confecção do vestuário. Podemos domesticá-los para que sirvam o homem nos seus trabalhos e lazeres. As experiências médicas e científicas em animais são práticas moralmente admissíveis desde que não ultrapassem os limites do razoável e contribuam para curar ou poupar vidas humanas."
Portanto, utilizar animais em experiências médicas e científicas não constitui maus-tratos, desde que se observe os limites impostos. Mas, quais são esses limites? O mesmo Catecismo os define na sequência:
"2418. É contrário à dignidade humana fazer sofrer inutilmente os animais e dispor indiscriminadamente das suas vidas. É igualmente indigno gastar com eles somas que deveriam, prioritariamente, aliviar a miséria dos homens. Pode-se amar os animais, mas não deveria desviar-se para eles o afeto só devido às pessoas."
Percebe-se que ‘fazer sofrer inutilmente os animais e dispor indiscriminadamente das suas vidas" é contrário à dignidade humana. Faz mal para o homem maltratar os animais. Uma outra coisa que deve ser percebida é que esses parágrafos sobre os animais no Catecismo encontram-se atrelados às explicações acerca do 7º Mandamento: "não roubarás", o que significa que o animal é propriedade do ser humano. Desta forma, o justo relacionamento entre o ser humano e o animal é o justo relacionamento entre o homem que exerce domínio sobre a criação.
O Catecismo ainda explica que é contrário à dignidade do ser humano cobrir de luxos os animais, ou seja, gastar com os animais de estimação uma soma que poderia ser revertida para uma criança orfã, por exemplo. Igualmente, não é correto amar os animais mais que às outras pessoas. O Catecismo é muito claro nesse sentido, não deixando margem para qualquer dúvida.
O Papa Bento XVI vem alertando os católicos sobre uma espécie de histeria ecológica que vem se intensificando nos dias atuais. Em vários documentos ele frisa a necessidade de o ser humano cuidar da ecologia, mas que esse cuidado deve partir sempre de uma ecologia humana. Essa ideia o Papa desenvolveu com bastante propriedade no número 51 da carta encíclica "Caritas in veritatis"[1], publicada em 2009, dizendo que se o desejo for alcançar uma justa ecologia é preciso, primeiro, olhar para a dignidade do ser humano.
O termo ‘ecologia’ foi cunhado por um biólogo chamado Ernst Haeckel, que viveu na Alemanha no final do século XIX, início do século XX. Além disso, esse biólogo foi também responsável pela criação da ideologia nazista, ou seja, a superioridade da raça ariana sobre as demais raças. Não por acaso, ele era também favorável ao eugenismo e à eutanásia. Para Haeckel, o ser humano não possui nenhuma dignidade especial e deve ser considerado como os outros animais. É com esse pensamento distorcido que nasce a ecologia. Infelizmente, o pensamento de Haeckel "evoluiu" até chegar ao extremo, como aconteceu no Clube de Roma, que afirmou que o planeta Terra tem um câncer, cujo nome é ser humano. Essa histeria verde encontra eco até mesmo dentro da Igreja Católica, com teólogos como Leonardo Boff, que afirma que o ser humano é uma doença que afeta a Terra, a Gaia. É claramente a volta do paganismo.
Santo Tomás de Aquino, na primeira parte da Suma Teológica, na questão nº 33, explica como é que o homem é filho de Deus. Segundo ele, existem variantes quanto à palavra filho, sendo que ela pode ser atribuída a qualquer criatura de forma imprópria, pois, filho de forma própria é somente Jesus.
As criaturas, em geral, são filhos por uma semelhança de vestígios, diz Santo Tomás, ou seja, nas plantas, nos animais, na natureza, existem vestígios de Deus. Nesse sentido é possível dizer que Deus é pai dos animais também, mas somente nesse.
Existe uma segunda forma de semelhança: a de imagem. Esta somente o homem - animal racional - possui. Santo Tomás diz que o homem não é somente filho de Deus por causa dessa semelhança de imagem, mas também por semelhança da graça, ou seja, os batizados, aqueles que se tornam filhos adotivos de Deus por meio do batismo.
Há ainda um outro grau de semelhança que o homem pode alcançar, caso chegue ao céu: o da semelhança da glória. Os santos já alcançaram essa semelhança. O que se tem, então, é uma hierarquia, partindo do irracional, racional, adoção batismal e, finalmente, a semelhança da glória. Esta é a hierarquia da criação e, somente a partir dela é possível julgar o relacionamento do ser humano com o resto da criação.
Deus é que ilumina a dignidade humana e é por esse motivo que se torna assustador perceber a tendência atual em se dar dignidade semelhante à humana para animais irracionais. É assustador, mas não surpreendente, pois trata-se de um reflexo esperado quando se tira Deus do centro, do horizonte. Sem Deus, de onde virá a dignidade do homem?
Aos homens de boa vontade cumpre continuar no caminho de servir ao Criador, tornando-se cada vez mais semelhante a Ele. Semelhança de vestígio o homem já possui por ser criatura de Deus. Semelhança de racionalidade também, mas é preciso aumentá-la, buscando sempre e cada vez mais a Verdade. Semelhança da graça, por viver o batismo e quem sabe, um dia, chegar à semelhança da glória, com os santos e os anjos no céu.

Referências

  1. Carta Encíclica - Caritas in Veritate

0 comentários:

Postar um comentário